
JOGANDO ÁGUA NO CHÁ DE REVELAÇÃO: A BUSCA OBSESSIVA PELO FILHO HOMEM
29 jan 2025 - Jairo Carioca (Psicanalista Periphérico)
Um tempo atrás conheci uma mulher que insistiu em engravidar seis vezes até parir um menino. Seis filhas não bastavam; fracassar em não dar ao marido um herdeiro homem não era uma opção. Finalmente, nasceu o “milagre”: Isaque, nome escolhido a dedo porque, na tradução religiosa, significa “o filho esperado”. Como se aquelas meninas todas fossem notas rasuradas de um rascunho para a obra-prima masculina.
Histórias assim são lugar-comum nas famílias cristãs, sejam evangélicas ou católicas. E por quê? Porque essa sociedade ocidental podre até os ossos ainda se sustenta na cartilha judaico-cristã, onde mulheres têm um papel social menor que rodapé de Bíblia. Mesmo as que escaparam dessa trincheira, como Débora — juíza por 40 anos — não receberam nem um décimo do reconhecimento dado aos juízes homens. Ah, e Jacó?
Teve uma filha chamada Diná, além dos famigerados doze filhos que fundariam as tribos de Israel. Mas Diná? Esquecida, apagada, lembrada como aquela que foi estuprada pelo príncipe cananeu e, portanto, obliterada da genealogia. Porque quem carrega a palavra é o homem, e o cordão simbólico que liga mãe e filha foi cortado sem cerimônia. Eis o Patriarcado!