SOBRE O CASO CPF NA NOTA

29 jan 2025 - Jairo Carioca (Psicanalista Periphérico)

Na revelação de que havia uma lista de e-mails, composta por homens brancos e intelectuais, ligados ao jornalismo e ao mercado editorial, que trocavam mensagens com conteúdo misógino e depreciativo sobre suas próprias esposas e relações, fez com que o jornalista Pedro Doria saísse em defesa dos brothers da lista, dizendo que ser homem “pequeno burguês” da esquerda era ser alvo, relativizando, na maior desfaçatez, uma denúncia de misoginia e abusos – só homens brancos podem ser cínicos, – um homem ama outro homem e faz uso do corpo feminino.

Quando falo sobre o Patriarcado, é comum ouvir de alguns que o patriarcado está falido, enfraquecido ou mesmo inoperante. O que essas pessoas ignoram, no entanto, é que o patriarcado, a partir do advento da modernidade, se reformulou, não se apresenta mais tão estruturado como no passado. O patriarcado moderno é FRATERNAL.

Esse termo surge pela primeira vez com Carole Pateman em seu livro O Contrato Sexual, publicado em 1988, onde ela expõe como a omissão da história do contrato sexual, anterior e necessário para a consolidação da teoria do contrato original, corroborou para a legitimação do patriarcado moderno fraternal, destinando a mulher à subordinação em todas as esferas da sociedade civil.
Isso significa que, se lá no passado o poder estava com um único homem – o Rei, hoje esse poder está dividido entre os homens num pacto patriarcal fraterno.

Doria ignora que essa não é uma história de traição, mas de abuso realizado por homens que, valendo-se do poder, não apenas humilharam e afetaram permanentemente a carreira jornalística de uma mulher. Aliás, para eles, o corpo feminino era objeto, não tinham nomes – eram XOXOTAS.

O PACTO PATRIARCAL faz laço com o PACTO DA BRANQUITUDE e com o PACTO CAPITALISTA, e assim estrutura a sociedade, onde PACTO e PATRIARCADO guardam uma relação inesgotável, criando uma estrutura de subordinação.

Doria ensina que devemos denunciar as violências, desde que os agressores não sejam nossos brothers, supostamente progressistas, intelectuais, escritores sensíveis. Nesse caso, é perseguição a esses pobres diabos.

A branquitude é cínica.

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