PUBLICAÇÕES
A Escola Psicanalítica da Escuta Periphérica se estrutura como um espaço de produção de conhecimento, resistência e reinvenção da psicanálise, articulando pesquisa, clínica e política para repensar os limites e possibilidades do campo psicanalítico a partir das experiências de sujeitos racializados, periféricos e marginalizados. O trabalho desenvolvido pelos pesquisadores da escola busca desconstruir a psicanálise eurocêntrica, incorporando questões fundamentais sobre racismo estrutural, epistemicídio, gênero, sexualidade, religião e necropolítica. O principal objetivo é se debruçar em contextos brasileiros se utilizando de pesquisadores desse território bem como os fenômenos culturais
Entre os pesquisadores que integram a escola, Jairo Carioca de Oliveira e Ronald Lopes de Oliveira têm contribuído significativamente com investigações que tensionam a relação entre psicanálise, história, educação e estudos culturais. O trabalho de pesquisa realizado na escola já resultou em diversas publicações, apresentações em eventos acadêmicos e intervenções políticas, consolidando uma abordagem que não apenas analisa a realidade, mas propõe alternativas concretas para a transformação social.
As pesquisas da escola se organizam em eixos centrais:
– Psicanálise e Racismo: Investigação sobre o inconsciente colonial, o trauma destruinte e os impactos da branquitude na subjetivação dos corpos negros e periféricos
– Gênero e Sexualidade: Estudos sobre patriarcado, masculinidades e o impacto da LGBTQIAP+fobia na constituição do sujeito, com destaque para a pesquisa sobre assédio sexual e gênero na universidade
– Educação e Políticas Públicas: Análises sobre os efeitos das políticas conservadoras na educação, a construção de epistemologias dissidentes e os desafios da formação crítica na academia
– Religião e Psicanálise: Reflexão sobre os arquétipos religiosos, os dispositivos de controle e a interseção entre fé, desejo e subjetividade, incluindo pesquisas sobre religiões de matriz africana e a relação entre psicanálise e cultura religiosa
– Psicanálise, História e Memória: Estudos sobre cemitérios, rituais fúnebres, morte e subjetivação, questionando como a colonialidade e o racismo afetam até mesmo os dispositivos de luto e memória
Perspectivas Futuras – O compromisso da escola com a pesquisa não se limita ao ambiente acadêmico. Além das publicações e da participação em congressos, a escola pretende ampliar sua atuação com novos projetos de extensão, formações acadêmicas e diálogos interdisciplinares, consolidando a psicanálise periphérica como um campo legítimo e insurgente dentro da produção de conhecimento. A pós-graduação em Psicanálise e Cultura Religiosa Brasileira na Universidade Santa Úrsula é um exemplo dessa expansão, refletindo a interseção entre teoria e prática que caracteriza o trabalho da escola.
Ao propor uma psicanálise viva, politicamente implicada e comprometida com as lutas sociais, a Escola Psicanalítica da Escuta Periphérica reafirma seu papel como um espaço de produção de saberes que desafia a tradição e constrói novas possibilidades de existência e resistência.


Livros autorais, Organização de Livros e Revisão de Livros

O EU RASURADO: Um manifesto de um "devir-negro do mundo" pela insurreição do pensável
Autor: Jairo Carioca de Oliveira
Mais do que um livro, O Eu Rasurado é um manifesto insurgente. Com uma escrita visceral e engajada, atravessando as estruturas do pensamento acadêmico, psicanalítico e filosófico para denunciar a violência epistêmica e subjetiva imposta pelo racismo e pelo colonialismo. A rasura, aqui, não é apagamento, mas um rastro que persiste, incomoda e reivindica espaço. Incorporando oralidade, música, poesia e cultura negra periférica, esta obra desafia os discursos hegemônicos e instaura uma nova linguagem — negra, criativa e revolucionária. Conceitos como doridade, trauma destruinte e organização do ódio ressignificam a experiência negra na diáspora, deslocando o pensamento cartesiano para uma lógica insurgente e encarnada. Mais do que um ensaio, O Eu Rasurado é o grito de uma existência (do autor), mas também é um convite ao desconforto, à reflexão e à ação.

ERRÂNCIA: Identificações Hiperdinâmicas em um Não-Lugar
Autor: Hudosn A. R. Bonomo

ENTRE KITS E MAMADEIRAS: A escuta psicanalítica do conservadorismo brasileiro nas políticas de educação e sexualidade
Autor: Jairo Carioca de Oliveira
Adentrando os meandros das políticas educacionais, este livro realiza uma análise profunda e perspicaz. Desde o marco de 2004, identifica-se um processo gradual de desmonte da estrutura da educação pública, evidenciando uma clara tentativa de suprimir e silenciar as múltiplas manifestações de identidades sexuais e de gênero. Por meio de uma escuta psicanalítica aguçada, o autor desvenda não apenas os aspectos superficiais, mas também os enraizados resquícios do conservadorismo que permeiam as políticas educacionais brasileiras. Sua análise revela não apenas a adoção de medidas repressivas, mas também a persistência de discursos e práticas que perpetuam estereótipos de gênero e restringem a liberdade sexual. Nesse contexto, a atuação do governo Bolsonaro se destaca como um ponto de inflexão, exacerbando tendências conservadoras e impondo retrocessos significativos no campo da educação.
Título da obra: ENTRE KITS E MAMADEIRAS: A escuta psicanalítica do conservadorismo brasileiro nas políticas de educação e sexualidade
Autor: Jairo Carioca
Gênero da Obra: Ensaio
Formato: 14×23 cm
ISBN: 978-65-5223-029-4
Número de páginas: 116
Editora: Caravana
Capa e editoração eletrônica: Amanda Sales
LOPES, R. e Outros; Glossário as Avessas: Desvendando Conceitos e Desconstruindo Padrões, ed.01. São Paulo: Fonte Editorial, 2024.
OLIVEIRA, J. C.; O nomeamento da Besta: porque os canalhas não suportam poesia, ed.1. São Paulo: Fonte Editorial, 2023.
NASCIMENTO, Washington; REIS, Alexandre; LOPES, Ronald; LICURGO, Mariana. Pedagogias decoloniais: ensino de história da África e literaturas africanas. Rio de Janeiro, RJ: Autografia, 2023.
OLIVEIRA, J. C.; LOPES, R.. Des-harmonias entre-laçadas, ed.1. São Paulo: Fonte Editorial, 2023.
TRAVESTI, F. B.; OLIVEIRA, J. C.; SILVA, L. R. N.; SILVA JUNIOR, J. A.. Práticas Pedagógicas e Estudos de Gênero, ed.1. São Paulo: Fonte Editorial, 2022.
OLIVEIRA, J. C.. A Gaveta dos Poemas Esquecidos, Vol.2., ed.1. São Paulo: Fonte Editorial, 2022.
OLIVEIRA, J. C.; A Gaveta dos Poemas Esquecidos, ed.1. São Paulo: Fonte Editorial, 2021.
OLIVEIRA, J. C.; Sobre sonhos, amores, femininos e outras dores…, ed.1. Rio de Janeiro: Editora Metanóia, 2020.
OLIVEIRA, J. C.; Um Carpinteiro Marginal, ed.1. Sao Paulo: Fonte Editorial LTDA, 2020.
OLIVEIRA, J. C.; Crônicas de um divã Feminino, ed.1 Rio de Janeiro: Editora
Autografia, 2017.
capítulos de livros
Em breve…
ARTIGOS EM REVISTAS ACADÊMICAS (QUALIS)

O CONTRATO DO PAI MORTO: a cosmogonia greco-judaica como pilar do apagamento feminino no pensamento ocidental
Jairo Carioca
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0003-0360-5884
Joyce Alves da Silva
UFRRJ
https://orcid.org/0009-0006-7865-3935
Gabrielle Rodrigues
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
RESUMO
Este artigo analisa a constituição histórica do patriarcado como dispositivo estruturante do pensamento ocidental, rastreando sua origem nas cosmogonias de Hesíodo e do Gênesis e sua transubstanciação nas tradições filosóficas, teológicas e psicanalíticas. Argumenta-se que essas narrativas fundacionais operam como tecnologias de governo dos corpos femininos, produzindo uma gramática da subordinação que atravessa a filosofia aristotélica, a teologia cristã medieval e a psicanálise freudiana. A continuidade desse “contrato do pai morto” manifesta-se na modernidade e se atualiza no Brasil contemporâneo na forma da máquina patriarcal-colonial, evidenciada pelas estatísticas de feminicídio e pela naturalização da violência contra mulheres, sobretudo negras, em múltiplas esferas sociais. Dialogando com autoras e autores como Lerner, Federici, Pateman, Bourdieu, Mbembe e Segato, o texto articula mito, filosofia e necropolítica para compreender como o patriarcado se perpetua como lógica estrutural de poder, morte e exclusão.

A vida cotidiana do negro num quilombo dos sertões do leste no século XIX
Ronald Lopes
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0002-5302-5215
RESUMO
O texto buscou elaborar uma hipótese com o termo “negro” que aparece em três fontes distintas produzidas na mesma época entre 1818 e 1823. O termo em análise aparece no sentido de membresia de um quilombo encontrado durante uma expedição no interior dos sertões do leste fluminense. “Negro” seria lugar de exclusão, incluindo índios, negros forros ou quaisquer outros grupos excluídos do projeto político de Nação promovido pelas elites portuguesas no governo do Brasil Império.

CAROLINA MARIA DE JESUS, EPISTEMOLOGIA PERIPHÉRICA DOS RESTOS
Jairo Carioca
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0003-0360-5884
Ronald Lopes
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0002-5302-5215
Mª Solineide O. Alencar
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0003-0360-5884
RESUMO
Este artigo propõe uma análise da obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, à luz da crítica contracolonial, da necropolítica e da epistemologia negra. Carolina não apenas narra a exclusão: ela a escreve com o corpo e com restos — de papel, de comida, de humanidade. Sua escrita encarna o conceito de peripheria, conforme formulado por Ronald Lopes e Jairo Carioca: uma produção de saberes a partir da escassez, da dor racializada e da recusa em silenciar. Confrontamos a pedagogia libertadora de Paulo Freire com os limites impostos por uma realidade onde a ideia de “ser-mais” já não basta. Carolina não se conscientiza para se libertar; ela escreve para não desaparecer. Mobilizando as contribuições de Judith Butler, Julia Kristeva, Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez e Achille Mbembe, o texto argumenta que Carolina é epistemóloga do resto, pensadora do abjeto e fundadora de uma pedagogia encarnada — onde a palavra escrita é sobrevivência e insurgência. Seu diário não apenas documenta a dor: ele a transforma em denúncia encarnada contra o pacto colonial do saber. Em vez de exceção, Carolina deve ser lida como ruptura.

As bases do inconsciente colonial
Ronald Lopes
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0002-5302-5215
Jairo Carioca
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0003-0360-5884
DOI: https://doi.org/10.59927/sig.v14i1.125
RESUMO
Este artigo examina o inconsciente colonial como estruturante das relações de poder e subjetividades na modernidade ocidental e colonial. Com foco nas dinâmicas de gênero e raça, a pesquisa investiga como o racismo antinegro e a exploração de corpos colonizados se imbricam com as hierarquias patriarcais, perpetuando desigualdades. A partir da psicanálise, principalmente das teorias de Freud e Lacan, e das contribuições de autores como Glória Anzaldúa e Suely Rolnik, o estudo analisa a reprodução de mitos culturais coloniais que reforçam o assujeitamento feminino e racial. A metodologia inclui revisão bibliográfica de textos psicanalíticos e históricos, além de uma análise crítica das interseções entre sexualidade, poder e colonialidade. Os resultados indicam que o inconsciente colonial é central na manutenção de sistemas de dominação, especialmente ao estruturar subjetividades através do controle dos corpos e afetos colonizados. A conclusão reforça a importância de uma psicanálise sensível às questões de raça e gênero, capaz de enfrentar as consequências psíquicas do colonialismo.

Travessia – da escuta adestrada ao psicanalista periphérico: Quando a centralidade vira margem
Ronald Lopes
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0002-5302-5215
Jairo Carioca
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0003-0360-5884
DOI: https://doi.org/10.71101/rtp.57.945
RESUMO
O texto explora como a psicanálise pode romper com paradigmas hegemônicos para se enraizar em contextos periféricos. A partir da interseção entre psicanálise, racismo estrutural, capitalismo e patriarcado, o texto posiciona a periferia como um espaço de resistência cultural e produção subjetiva. Com contribuições de Lélia Gonzalez, a análise conecta a “amefricanidade” às noções de sinthoma e lalangue em Lacan, propondo uma escuta que valoriza as narrativas marginalizadas e desafia estruturas opressoras. O psicanalista periférico é apresentado como agente de transformação social e subjetiva, capaz de amplificar vozes e experiências das margens. Essa abordagem subverte a lógica colonial, propondo uma psicanálise que ressignifica o sofrimento como potência de resistência e reinvenção.

A interposição do patriarcado no real do feminino: por um empretecimento psicanalítico
Ronald Lopes
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0002-5302-5215
Jairo Carioca de Oliveira
UFRRJ e Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0003-0360-5884
DOI: https://doi.org/10.31683/stylus.v1i49.1136
RESUMO
O texto explora a relação entre psicanálise, feminismo e questões socioculturais contemporâneas no Brasil, destacando a influência do patriarcado e do falocentrismo nas mulheres e na dinâmica social mais ampla. O objetivo é demonstrar que o falocentrismo, uma estrutura patriarcal que coloca o falo como símbolo central de poder e identidade, continua a moldar e a limitar as experiências e a subjetividade das mulheres. Apesar das inovações propostas por Lacan, como a noção de Sinthoma, o texto argumenta que a psicanálise enfrenta dificuldades em compreender e abordar as complexidades das dinâmicas sociais contemporâneas. No Brasil, o fundamentalismo religioso e o neoliberalismo exacerbam a violência contra as mulheres e sua internalização como uma característica inevitável da vida feminina. A necessidade de escutas que articulem o Sinthoma com a periferia, o que podemos chamar de “escutas periphéricas”, que valorizem as experiências marginalizadas, é destacada como um caminho para redefinir e desconstruir a função paterna tradicional e oferecer novas formas de suporte. O texto critica a psicanálise por sua aparente falta de capacidade para ouvir e responder às vozes dos marginalizados e defende a necessidade de uma abordagem que vá além dos escritos de Freud e Lacan, sem prescindir deles, integrando a complexidade das experiências sociais e culturais atuais.

Arquétipos religiosos e a gestão da angústia no contexto mariano
Ronald Lopes
Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0002-5302-5215
Jairo Carioca de Oliveira
UFRRJ e Coletivo de Pesquisa Ativista Psicanálise, Educação e Cultura
https://orcid.org/0000-0003-0360-5884
DOI: https://doi.org/10.15603/2176-1078/er.v38n1p137-160
RESUMO
Utilizando a família concebida pela cultura judaico-cristã, o texto mostrou como o patriarcado subjugou a figura do feminino marginalizando as mulheres naquela sociedade. Ao mesmo tempo, discutiu-se a representação religiosa de Maria como arquétipo do feminino que geriu as angústias provocadas pelos colonialismos em sua evolução ao longo da história, principalmente na América Latina, em especial santas pretas no contexto mariano. Ao final, analisamos alguns dados sobre a violência contra a mulher preta e as disparidades de gênero e raça, onde mulheres negras enfrentam riscos significativamente maior de violência em comparação com as mulheres não negras.